Opinião

A bola vai sangrar no Brasil com a realização da Copa América

Bola suja por causa da chuva no gramado

A Copa América no Brasil não promete ser um espetáculo.

O imortal Alberto Dines, em sua crônica “Tragédia Brasileira”, escreveu: “Nossa tragédia é federal, ampla, visível em toda parte, composta por diferentes matizes, formatos, chorada em todos os rincões – mesmo onde não correm lágrimas nem jorrar o sangue, mas a vergonha, a dor e a revolta combinam-se para produzir uma arrasadora sensação de perda”.

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O que era específico, a lição de Dines pode muito bem alcançar o estágio atual do Brasil e do futebol brasileiro.

A confirmação do Brasil como sede da Copa América quando o número de vitimas mortais da Covid-19 está batendo nas quinhentas mil, é o que seria na expressão do filósofo Roberto Romano “o funeral abjeto das leis”.

De Bolsonaro não se deve esperar nada que não seja a pregação do caos. Nem que esse caos tenha como resultado a morte de brasileiros pela Covid-19. Oportunista, quer usar o Brasil como sede da Copa América para escancarar o juízo negativo que faz dos protocolos científicos para diminuir o impacto do vírus e submeter de forma indireta, governadores, prefeitos e o STF ao seu poder. Em resumo, para quem já pode ser responsabilizado pela morte de 450 mil brasileiros, um pouco mais ou um pouco menos não faz diferença.

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Bem por isso, mais grave que o ato insano de Bolsonaro foi o de Rogério Caboclo, presidente da CBF, que incentivou à Conmebol o Brasil como sede. Embora seja da pior espécie, Bolsonaro é político. Mas Caboclo, embora seja, também, da pior espécie, é cartola de futebol, que se supõe, seja alheio às questões políticas e ideológicas. E, nessa condição, não tinha o direito de passar dos limites de atuação do futebol, enquanto segmento de caráter privado.

Copa América no Brasil é um jogo de interesses

Como cartolas de clubes e federações, em regra, têm comunhão de interesses, inclusive, espúrios, com a CBF, aceitam esse despudor.

Quem lê Santo Agostinho aprende que “o Estado sem valores não se diferencia das quadrilhas”. O Estado, no seu sentido mais amplo possível, recepcionando todos os segmentos.

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Restam duas alternativas para os brasileiros repudiarem essa violência: a provocação do Supremo Tribunal Federal por uma entidade, ou a intervenção dos sindicatos de atletas profissionais de futebol, que não só têm o direito de agir, como têm o dever de solidariedade com o povo brasileiro.

Talvez, os jogadores se negando a ser prestativos às ações de Bolsonaro e Caboclo, sejam mais fortes do que uma ordem do Supremo.

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