Galinha morta? Melhor garantir

A lógica é simples: Honduras tem tradição zero no futebol internacional; o Brasil enfrenta Honduras nas quartas de final da Olimpíada de Londres (neste sábado, às 13 horas); logo, o time de Neymar já está na semifinal, certo? No papel, não há incongruências, mas em cima do piso verde não há racionalismo que não seja insuperável. Em 2001, a “galinha morta” da América Central sapateou na camisa amarela dos então tetracampeões mundiais. Lição que deveria ser repassada pelo professor Mano Menezes aos pupilos, só por precaução.

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Eu estava naquela Copa América, disputada na Colômbia. A competição quase não foi realizada, por problemas de segurança. Com medo, a Argentina abriu mão de ir ao torneio, cedendo vaga à convidada Honduras. Brasil e Honduras estavam em grupos separados, terminando a fase inicial com a mesma campanha: duas vitórias e uma derrota. Nós perdemos na estreia para o México (1 a 0) e batemos Peru (2 a 0) e Paraguai (3 a 1) sem convencer ninguém. Os penetras da festa sul-americana, por sua vez, caíram diante da Costa Rica (1 a 0), e derrotaram Bolívia (2 a 0) e, surpreendentemente, mas nem tanto, o time misto do Uruguai (1 a 0).

Assim que acabou o jogo derradeiro dos hondurenhos, lembro bem que todos que participavam da cobertura da seleção ficaram satisfeitos. A impressão – não, mais do que isso, certeza mesmo – que tínhamos, era de que o Brasil estava assegurado pelo menos até a semifinal, o que significaria permanecer trabalhando até o fim da competição, nem que fosse para acompanhar a decisão de terceiro lugar. Não houve um mísero segundo de preocupação ou dúvida quanto às chances da equipe treinada por Felipão. Seria, inclusive, a chance de deslanchar na Copa América, finalmente fazer uma boa apresentação, enfim, todas essas coisas que a gente espera da seleção quando ela começa um campeonato tropicando nas próprias pernas.

Partimos arrogantes de Cali, nosso quartel-general, para Manizales. Viagem de ônibus, cansativa e longa, pois não havia voo para a pequena cidade universitária colombiana. O nariz empinado caiu – despencou, para ser mais preciso –, quando o juiz apitou o fim do confronto. Perdemos um jogo imperdível, por 2 a 0. Demorou para os brasileiros presentes demonstrarem alguma reação. O choque era visível.

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Passado o baque inicial, sobraram reclamações. “Um time com Eduardo Costa não vai longe mesmo”, diziam lá e cá alguns dos homens de orgulho ferido. O volantão virou marca da derrota, como Dunga no Mundial de 1990. A verdade é que não merecíamos melhor sorte.

Esta talvez seja a diferença para o cenário atual. Temos um bom time, quiçá o melhor do torneio olímpico. Só que é melhor esganar a galinha para conferir se está morta mesmo. O banquete da vitória, com carne branca, só depois.

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