Depois da “torcida única”, MP-PR e Atlético poderiam criar a “praia seca”

Torcida "informal" do São Paulo em jogo de "torcida única" com o Atlético, na Arena. Henry Milleo/Gazeta do Povo

Projeto piloto do Ministério Público do Paraná (MP-PR), abraçado pelo Atlético-PR, o novo conceito de “torcida única”, ou melhor, “torcida mista”, conseguiu a proeza de contar com praticamente unanimidade dos torcedores contra a inusitada ideia.

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O que, nesse caso, nem é tão surpreendente assim. Afinal, o plano do MP-PR e do Atlético é tão estapafúrdio que seria curioso se contasse com apoio. Basicamente, funciona assim: a torcida visitante pode ir ao jogo, mas não pode. Entendeu? Não? Tudo bem, é confuso mesmo.

Tentando explicar mais uma vez, tendo como exemplo o próximo jogo na Arena, entre Atlético e Flamengo. Os flamenguistas podem ir ao Joaquim Américo, mas não terão setor específico, não podem usar nenhum adereço do clube, nem se manifestar (“meeeeeengo”, nem pensar).

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Em outras palavras, é como ir à praia sem poder mergulhar, afinal, há afogamentos, o conceito de “praia seca”. Embora eu prefira aquela outra, de que é como matar o cachorro para acabar com as pulgas. Ou proibir o uso de automóveis porque há acidentes.

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Mas, falando sério, o projeto do MP-PR visa diminuir a violência nos estádios. Intenção sempre louvável, claro. Não fosse pelo fato de que os conflitos ocorrem, normalmente, a quilômetros das praças esportivas. Costumeiramente, não há confusões nas arenas. E, quando ocorrem, são contornáveis.

Já foram 180 jogos no Brasileirão. Excetuando sete do Atlético na Baixada, mais o duelo com o Paraná na Vila, cinco clássicos paulistas, e os compromissos do Furacão fora de casa em que seu torcedor foi impedido de comparecer, dá para calcular, por baixo, cerca de 160 partidas com visitantes nos estádios.

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Não fiz um levantamento detalhado, mas não encontrei registros de problemas. Por outro lado, houve atrito entre torcedores no jogo do Furacão com o Internacional, sob o esquema de “torcida única”. Conflito que ocorreu após o gol dos colorados e que fez com que os gaúchos fossem deslocados de setor.

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Um dos argumentos do MP-PR para a torcida única é a diminuição do efetivo policial nos jogos. Novamente, é digno de aplauso que as forças policiais ganhem horas de descanso ou, melhor ainda, empregadas no combate ao crime. Embora um jogo de futebol seja um evento de interesse público.

Agora, seria o caso de aniquilar com o cenário do futebol para isso? Acabar com a rivalidade nos jogos? Impedir o direito de os torcedores frequentarem as partidas? De uma imensa maioria que não tem relação alguma com qualquer episódio de violência?

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E a outra alegação, mais relevante, igualmente contestável. Em São Paulo, levantamento da própria Polícia Militar, envolvida no assunto, aponta que os conflitos entre torcidas organizadas diminuíram de 16 para 8 nos dois anos da medida. Ou seja, não resolveu.

E, muito pior, apenas este ano foram registradas três mortes em brigas entre torcedores em São Paulo. Como se vê, não há solução “mágica” para conter a violência. Especialmente, num país que teve 70 mil assassinatos em 2017, recorde mundial.

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