Análise

“The Last Dance” consagra: Jordan é o maior da história e, também, um tremendo babaca

Já estou desolado pelo fim da série “The Last Dance”, título traduzido pela Netflix, com impressionante inspiração, para “Arremesso Final”. É, possivelmente, o melhor documentário esportivo de todos os tempos.

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Em 10 capítulos, a história de Michael Jordan e a trepidante saga do Chicago Bulls, a grande grife de basquete. Assisti ao vivo, à época, boa parte das decisões, obrigado Luciano do Valle. Desvendar os bastidores, décadas depois, é uma dádiva.

Tratar da genialidade em quadra do filho da Dona Jasmine e do Seu James é redundante – os números gritam. Desnecessário igualmente ressaltar o impacto cultural como jogador do moleque forjado na Carolina do Norte.

Michael Jordan é o maioral, quem discorda que vá se informar e pare de falar besteira.

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O grande mérito da série, entretanto, é conseguir ir além da, incontornável, bajulação. Trunfo importante se considerarmos, ainda, que The G.O.A.T. ou, para outros, Black Jesus, interferiu na produção.

É possível enxergar, ao longo da dezena de horas da produção, um MJ quase psicótico pelas vitórias. Pela primeira vez para o grande público, em escala mundial no streaming, vemos mais do que o gênio em quadra.

Obsessão, quase doentia, que se manifesta tanto na finalíssima pela medalha de ouro nos Jogos de Barcelona, com o Dream Team, diante da Croácia. Ou numa disputa banal com seus seguranças no vestiário.

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E se a batalha for travada num campo de golfe, entre tacadas de milhares de dólares, tanto melhor. Prazer pelo jogo, pela disputa, confronto, que pode ainda ser saciado numa mesa de poker coalhada de mafiosos em Atlantic City.

Competitividade que torna Michael Jordan praticamente insuportável e até cruel na convivência com os companheiros de time. São tantos anéis de campeão da NBA nos dedos dos parceiros quanto episódios de humilhação.

Sanha que faz o jogador criar quase um método para superar os próprios limites. De alguma forma, o camisa 23 precisa sentir-se menosprezado para, então, empreender vingança como uma versão esportiva de Paul Kersey, de Desejo de Matar.

Claro, estão aí os coachs, os “líderes”, chefes, aqueles que estão alvoroçados com a quarentena, “chance para ser melhor a cada dia”, intumescidos de entusiasmo com o mais alto nível de “excelência” de Michael Jeffrey Jordan.

Imagine um cara desses vendendo Avon, Herbalife? Seria fantástico.

Gênios difíceis de lidar, pouco sociáveis, que operam em “outra frequência”, ou, para usar mais um patético termo do mundo corporativo, estão sempre “fora da caixa”, são figuras manjadas. Não é regra, entretanto.

Ao final, a série consagra, definitivamente, para as novas gerações, Michael Jordan como o melhor e mais completo jogador de basquete de todos os tempos. No mesmo sentido, um dos maiores atletas da história da humanidade.

Mas faz mais. Despe o mito, o enquadra entre os reles mortais. Imperfeito, como eu e você. Na condição de, por diversos momentos ao longo de sua trajetória inigualável, um tremendo de um babaca.

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