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André Pugliesi
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Petraglia aumenta sócio a R$ 250 para “expulsar” Fanáticos de setor da Arena

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André Pugliesi
08/03/2019 17:29 - Atualizado: 29/09/2023 23:36
Arquivo Gazeta do Povo
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Mario Celso Petraglia, presidente do Conselho Deliberativo do Athletico, cumpriu a ameaça. Em mais um capítulo da guerra fratricida com a Fanáticos, subiu numa canetada ou, quem sabe, num áudio de Zap, a mensalidade do setor ocupado pela torcida de R$ 150 para R$ 250.

Um aumento de R$ 100, o que representa 66,6% de acréscimo numa lapada só. De um mês para o outro. E virá ainda uma espécie de retroativo: a próxima cobrança para os sócios da Buenos Aires Inferior será de R$ 350, para compensar a anterior, que caiu com o valor original.

A justificativa? “A organizada descumpriu um contrato para permanecer na Coronel Dulcídio Superior”, diz a atendente do Espaço Sócio Furacão. “Infelizmente, alguns acabam pagando pelos outros”, completa a funcionária do clube, na ligação feita pela reportagem.

Como se vê, pouco importa se boa parte dos associados do setor não tem qualquer ligação formal com com a denominada TOF. Que goste de ficar por ali por causa do “agito”, porque é mais próximo da entrada principal ou qualquer outro motivo. A ordem é: paguem ou se mudem.

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A torcida, em comunicado oficial, alega que o contrato foi apenas um pré-acordo, feito às vésperas da final da Sul-Americana, sem validade legal. Questiona ainda os termos e diz que, no acerto, não havia previsão de aumento de mensalidade em caso de eventual descumprimento.

Tive acesso ao documento e, de fato, não há qualquer menção sobre majoração da mensalidade por inobservância de alguma proposição. Ademais, Petraglia já havia dito, antes da reunião entre torcida e clube, de que subiria os valores para o setor e instalaria cadeiras “almofadadas” no espaço.

Entretanto, pouco importa – e não se trata aqui de deslegitimar contratos, acordos etc, combinado vale mesmo que só “de boca”. Mas a questão é maior e mais profunda do que a importância ou não de tal dispositivo. Como naquele seriado que eu nunca vi, “the truth is out there“.

Como disse na abertura, tudo é somente mais um episódio da disputa entre o cartola e a Fanáticos. Um cabo de guerra que já dura mais de década e que, evidentemente, prejudica a todos. Escrevi sobre em 2016 e, passados mais de dois anos, diversos outros capítulos do drama foram encenados.

Agora, Petraglia joga nas costas da organizada o fracasso do boulevard gastronômico em frente da Arena. Estão lá as palmeiras imperiais, mas não há comércio algum, exceto a loja do clube. E já se passaram quatro anos e meio desde a reabertura do estádio, no pós-Copa.

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De acordo com o dirigente, a presença da Fanáticos nas imediações atrai “bandidos” e, dessa maneira, afasta potenciais lojistas. Assim sendo, Petraglia tenta empurrar a organizada para os fundos do estádio, distante do projeto de comidinhas e bebidinhas para torcedores VIPs.

Ok, para simplificar a conversa, vou considerar que, sim, a organizada atrai toda sorte de meliantes para as proximidades da Praça Afonso Botelho, mesmo que seja uma generalização grosseira. Mas, a partir dessa premissa, como funcionaria o esquema atleticano para, digamos, “limpar” a área?

Será criada uma carteirinha de “atleticano cidadão de bem” e só quem estiver de posse da mesma poderá acessar a região? Será estabelecido um código de vestuário e apenas quem calçar sapatênis, vestir bermuda caqui e trajar camisa nova com rebranding do escudo conseguirá furar o cerco?

Sem dúvida, é bastante pitoresco o plano da diretoria de criar um território free crime na Buenos Aires. Considerando, ainda, que a sede da Fanáticos é a uma quadra da entrada da Joaquim Américo e é pública a calçada em frente, remodelada com dinheiro do governo e da prefeitura para o Mundial.

Ao fundo, claro, tudo se resume a grana e instintos primitivos. Petraglia vê a Fanáticos como uma “concorrente” do Athletico e, também, grupo capaz de mobilizar forças atleticanas. Não por acaso, abraçou a torcida com fervor nas duas últimas eleições. A foto abaixo é histórica.

É parte ainda de um processo de “bumbumdização de veludo” das arquibancadas brasileiras, que você pode chamar de “elitização” e, se quiser, “gourmetização das arenas”. Dirigentes não conseguem nem encher metade dos estádios, mesmo assim, querem segregar, transformar numa versão da Disneyworld.

Por fim, é uma tentativa, tola e infrutífera, de eliminar as torcidas organizadas. Facções que, obviamente, têm responsabilidade sobre episódios de violência. Mas, lembro, estamos no país dos 60 mil homicídios anuais. Nada se resolve dentro de gabinetes enquanto o pau tora lá fora.

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