Opinião

Primeiro nome Pe, sobrenome Lé. O doc na Netflix e os dilemas do Rei com a ditadura

Confesso que após a definição sobre Pelé de Snoop Dogg, que considero irrevogável, em resenha com Mike Tyson num vídeo que reviralizou esses tempos, não imaginava trepidar mais com algo sobre o também conhecido como Rei do Futebol.

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Após Tyson revelar que foi apresentado à Pelé, o cria de Long Beach e um dos símbolos do gangsta rap, elaborou algo como “quando o cara tem um nome só, você sabe que ele é sinistro. Primeiro nome Pe, sobrenome Lé”, numa tradução para antes da meia-noite.

Eis que é lançado o documentário sobre o camisa 10 na Netflix e, embora seja uma das figuras mais retratadas de todos os tempos, a obra reabre espaço para que se discuta alguns dilemas do, no RG, Édson. Além, é claro, de servir para turbinar, ainda mais, a marca do Rei.

O filme dos diretores Ben Nicholas e David Tryhorn traz figurões como o ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, e o músico, Gilberto Gil, como escada para valorizar a importância histórica do maior jogador de futebol de todos os tempos.

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Pelé também está, claro, já próximo dos 80 anos, debilitado fisicamente, e ouvi-lo, mesmo que os depoimentos não espantem, é reconfortante. Infelizmente, os homens que construíram a identidade do futebol verde-e-amarelo estão nos deixando.

Essencialmente, a obra toca em temas digamos, sensíveis, na trajetória do astro. Com certa canastrice, Pelé fala sobre infidelidade e o casamento com Rose, que fracassou. Parece um pedido de desculpas públicas ensaiado.

E, algumas vezes, o documentário aborda a relação do Rei, bastante amistosa, com os próceres da ditadura militar no país. Discussão, oportuna, se Pelé poderia ter se levantado contra o regime, como Paulo César Caju pensa, ou se não havia espaço, como Juca Kfouri defende.

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O filme costura ainda imagens de arquivo, algumas da imprensa estrangeira, que não recordo ter visto em outras peças ou, pelo menos, não utilizadas como podemos ver desta vez no streaming. Em cores, e preto e branco, uma viagem fascinante por um mundo analógico.

São alguns minutos no começo, entretanto, que considero o destaque do mais novo filme sobre Pelé. Quando os craques do Santos dos anos 50 e 60 se reúnem para um churrasco à beira da piscina.

Parecem apenas velhinhos sarristas, e Pelé faz graça até da cadeira de rodas que virou seu meio de locomoção, mas são as versãoes em cabelo branco (ou nenhum cabelo) dos maiores globetrotters do futebol mundial. Dorval, Pepe, Coutinho, Edu e outros.

Não formassem o conjunto de ataque mais infernal da história do futebol, e teriam tido sucesso estrondoso em outras frentes. Nascidos nos EUA, quem sabe não seriam os The Temptations ou Isley Brothers, tamanha cumplicidade e vocação.

Há quem creia que em alguns anos, não muitos, as figuras construídas sob o signo da internet, como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, vão suplantar a importância de Pelé no imaginário da juventude torcedora.

Pode ser. Documentos como o agora exibido pela Netflix, ficam para desafiar a memória geral.

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