Opinião

O Athletico, clube mais elitista do país, fala agora em “democratização do futebol”

Por causa da guerra pelos direitos de TV, detonada pela MP 984, o Athletico incorporou ao universo do clube palavra que, por décadas, provocava engulhos entre a cartolagem rubro-negra: “democratização”. Nas redes sociais, o Furacão exorta a participação popular para emplacar a chamada “lei do mandante”.

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É legítimo. Está em curso momento decisivo para o futuro do soccer business no país do 7 a 1, com a perspectiva de mudança definitiva no regime de direitos de transmissão, redistribuição de cotas e aparecimento de novos players, para usar alguns dos termos preferidos dos marketeiros. Não há nada de errado na campanha atleticana.

Agora, é ao mesmo tempo curioso tal atitude para um clube que tornou-se sinônimo de elitização. Que, desde que Mario Celso Petraglia tomou o poder, em 1995, esforçou-se para expulsar da Baixada as camadas populares de sua numerosa torcida. Claro, sempre “amparado” pelas “tendências de mercado” e o delicado balanço econômico do país.

O fato é que a expedição exclusivista do Athletico é um fracasso retumbante. Reaberta em 2014, renovadíssima para a Copa do Mundo, a Arena não consegue superar sequer 30% de taxa de ocupação em seis anos. E o plano de sócios do Furacão está empacado na faixa dos 20 mil fiéis há anos e anos, apesar do incremento de receitas.

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Eis que surge, com a MP 984, novo flanco para turbinar o caixa. Normalmente, o Athletico apela ao contingente de torcedores que pode pagar R$ 150 por mês e instagramar o rebranding Quatro Ventos vestidos com a camisas oficiais cobertas de patchs. O foco, no entanto, aparentemente mudou. Há outros.

O clube olha agora, também, para os atleticanos vida loka que estão aí pela cidade espremida pelo coronavírus. Para aqueles que seus dirigentes decidiram exilar, para os quais o Athletico transformou-se num time na TV. Os tempos mudaram e, olha só, eles podem ser úteis na luta pela “revolução do streaming”. Quem sabe, têm R$ 24,90 pra empenhar no Furacão Play.

São todos rubro-negros. Iguais. Entretanto, uns podem ir à Baixada, outros não, mesmo que o estádio esteja sempre entupido de cadeiras vazias. Mas o papo mudou, é “de democratização do futebol”. Resta aguardar e ver, quando a Covid-19 estiver sob controle, se virá uma nova política, de ingressos populares em setores ociosos e planos variados de associação.

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Ou “democratização do futebol” é só com o bolso dos outros?

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