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Nossa imprensa critica Superliga da Europa, mas se cala sobre “espanholização” do futebol no Brasil

Por
André Barcinski
20/04/2021 14:03 - Atualizado: 29/09/2023 19:55
Nossa imprensa critica Superliga da Europa, mas se cala sobre “espanholização” do futebol no Brasil

Nos últimos dias, o futebol mundial foi sacudido pela notícia de uma Superliga Europeia liderada por Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madri, Milan, Juventus, Inter de Milão, Chelsea, Tottenham, Arsenal, Manchester United, Manchester City e Liverpool.

A ideia é simples: juntar um monte de clubes ricos numa competição sem descenso ou mérito esportivo, criando assim um evento caça-níquel, um Clube do Bolinha de times milionários. É uma ideia asquerosa e que causou, de imediato, reações de pessoas ligadas ao futebol:

Gary Neville, ídolo do United e comentarista de TV
“Sou torcedor do Manchester United e estou absolutamente enojado.”

Ander Herrera, jogador do PSG
“Eu acredito em melhorias na Champions, mas não em ver ricos roubando o que o povo criou, o que não é nada menos que o mais bonito esporte do planeta.”

 Jamie Carragher, ex-jogador do Liverpool
“Que vergonha nos tornamos, Liverpool. Pense em todas as pessoas desse clube que vieram antes de nós, e que certamente estariam envergonhadas também.”

Gary Lineker, ex-jogador da seleção inglesa
“Se os torcedores se unirem contra esse esquema de pirâmide antifutebol, ela pode ser parada.”

Lukas Podolski, jogador polonês naturalizado alemão
“Futebol é alegria, liberdade, paixão, fãs, e é de todos. Este projeto é repulsivo, injusto, e estou desapontado ao ver o envolvimento de clubes que representei.”

Luis Figo, ex-jogador português
“Essa manobra desonesta e gananciosa seria um desastre para o futebol de base, para o futebol feminino e para a maior parte da comunidade do futebol, e foi criada apenas para servir a indulgentes donos de clubes, que há muito tempo pararam de se importar com seus torcedores e que têm completo desapreço pelo mérito esportivo. Trágico.”

Rio Ferdinand, ex-jogador inglês
“Isso é uma vergonha, é constrangedor, e vai contra tudo que o futebol representa.”

Em toda a Europa, houve protesto de torcedores, inclusive de fãs de times criadores da Superliga, como Atlético de Madri, Liverpool e Manchester City.

É muito bom ver que a
ideia da criação de uma liga de milionários foi amplamente rechaçada, mas só o
fato de ela existir já mostra o nível de ganância e desprezo pela história do
esporte a que chegamos.

A crônica esportiva
brasileira também criticou em peso a ideia da criação da Superliga Europeia.
Mas fica a pergunta: onde estavam esses “justiceiros” durante a última década,
quando assistimos, aqui no Brasil, ao processo de “espanholização” de nosso
futebol?

Já escrevi bastante sobre o assunto, como neste texto de 2015, publicado na Folha de S. Paulo. E faço questão de indicar outros dois textos, que analisam a situação. O primeiro é de Irlan Simões e foi publicado aqui mesmo, no UmDois Esportes. O segundo é do economista André Rocha e foi publicado no jornal Valor Econômico.

Colegas da imprensa, vamos deixar de hipocrisia.

De que vale reclamar da ganância e arrogância dos clubes ricos da Europa enquanto assistimos, sem dar um pio, à destruição do equilíbrio do Brasileirão?

O processo de elitização e monopolização de nosso futebol está em curso há mais de uma década. As arenas construídas para a Copa de 2014 tiraram os pobres dos estádios; os abismos nas cotas de TV favoreceram clubes que agora têm imensa vantagem financeira sobre os rivais; times de menor torcida ou do interior do país estão sendo aniquilados por uma visão puramente mercantilista do futebol.

Futebol é negócio? Claro
que é. Mas futebol não é iogurte. O “negócio” que envolve o futebol não pode
ser compreendido ou gerido sem levar em conta a história do esporte, seus
clubes, suas rivalidades e suas torcidas. Não dá para ter um futebol brasileiro
forte com três times ricos e o resto na miséria. Não há nada de “esportivo”
nisso.

Enquanto TODOS os times – mesmo os favorecidos financeiramente – não entenderem a gravidade da situação, estamos fadados ao fracasso. Vamos continuar vendo as novas gerações se interessando cada vez menos por nosso futebol, crianças usando camisa do Messi e vendo jogo da NFL.

Acordem.

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