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André Barcinski
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Possuídos pelo skate. Olimpíada abriu a porta do esporte para jovens brasileiros

Por
André Barcinski
18/08/2021 17:10 - Atualizado: 04/10/2023 17:35
Possuídos pelo skate. Olimpíada abriu a porta do esporte para jovens brasileiros
| Foto: COB

Há esportes que admiro, mas nunca tive
vontade de praticar. E o skate é um deles.

Não sei se foi o medo de tombos ou a
falta de equilíbrio, mas nunca pus os pés num skate. Mesmo assim, sempre curti
filmes sobre o esporte e, especialmente, sobre a cultura marginal e alternativa
do skateboard. Além, claro,  de ouvir
bandas como Suicidal Tendencies, T.S.O.L., Dead Kennedys, Circle Jerks e tantas
outras adoradas pelos praticantes do esporte.

Em 2014, escrevi sobre a memória de
assistir, numa velha fita de vídeo, ao lendário “Bones Brigade Video Show”:

Se você era adolescente na segunda metade da
década de 80 e tinha algum interesse por skate, com certeza lembra a primeira
vez que viu o filme. Naquela época, ele circulava em fitas de vídeo, trazidas
por algum felizardo que tinha viajado ao exterior ou que tinha um parente iloto
da Varig.

Lembro a primeira vez que vi: foi na casa de
um amigo, cuja família era dona do primeiro – e único – aparelho de
videocassete do bairro.

O filme começava com um apresentador de TV
caretão, falando alguma coisa sobre skates. Um sujeito louro assiste ao
programa, sentado num sofá. O lourinho se revolta: “Isso não é um skate!”. Ele
pega uma marreta, destrói a TV, e tira de dentro dela um skate lindo, colorido
e cheio de desenhos irados. “
Isso sim é
um skate!” Em seguida, apareciam imagens alucinantes de skatistas voando
em 
half pipes, fazendo manobras que nunca tínhamos visto
antes.

O filme chamava “Bones Brigade Video Show” e
foi lançado em 1984, mas demorou pelo menos dois anos para chegar ao Brasil. E
o lourinho era Stacy Peralta, uma lenda do skate. Nos anos 70, Peralta fizera
parte dos Z-Boys, o mitológico grupo de skatistas que incluía nomes como Tony
Alva, Jay Adams, Peggy Oki e Bob Biniak (em 2001, Peralta faria um documentário
sensacional sobre a equipe, chamado “Dogtown and Z-Boys”; se não viu, assista).

Depois de se aposentar das competições,
Peralta fundou, com o empresário George Powell, uma marca de skate, a
Powell-Peralta, e teve a ideia de criar a maior equipe de skatistas que o mundo
já conhecera. Depois de fuçar por meses em pistas, procurando os moleques mais
talentosos e ousados, juntou uma turma que mudaria o esporte: Tony Hawk, Steve
Caballero, Rodney Mullen,  Tommy Guerrero, Alan Gelfand, Mike McGill e
Lance Mountain, entre outros. São esses monstros que aparecem voando pelos ares
em “The Bones Brigade Video Show”.

Assisti às competições de skate nas
Olimpíadas e fiquei muito feliz com as medalhas conquistadas pelo Brasil (três
pratas, com Rayssa Leal, Kelvin Hoefler e Pedro Barros). Foi muito emocionante
ver o triunfo de um esporte que chegou a ser proibido em São Paulo pelo
prefeito Jânio Quadros, e depois liberado pela prefeita Luiza Erundina.

Espero que a molecada brasileira se
inspire em Rayssa, Pedro e Kelvin e adote o skate. É um esporte que tem tudo
para se tornar mais popular no Brasil, até porque é um dos poucos que não
precisa de nada para ser praticado, apenas de asfalto. Ou seja: independe de
investimento público.

O skate, mais que um esporte, é um estilo de vida que valoriza a ocupação de espaços urbanos e celebra as cidades e suas arquiteturas. Entendo que alguns skatistas mais ortodoxos vejam na recente superexposição do esporte nas Olimpíadas uma desvirtuação de seu caráter contracultural e rebelde, mas acho que os benefícios serão, a longo prazo, maiores. As Olimpíadas abriram as portas do skate para uma multidão de jovens brasileiros. Que eles aproveitem...

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