Ser ídolo é mais importante do que ser craque. Ao Aldo, minha gratidão eterna
Dia desses, recebi a mensagem de um amigo: “Aldo está
pedindo ajuda”.
Eu soube, na hora, a que Aldo ele se referia. Como 90% das minhas conversas com esse amigo se limitam a recordar o time mais glorioso que vimos jogar – nosso Fluminense de 1983 a 1985 – o Aldo só poderia ser Aldo Silva do Espírito Santo, lateral-direito tricampeão carioca e campeão brasileiro de 1984 pelo Fluminense.
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E era mesmo.
Aldo hoje mora no Macapá. A esposa dele estava internada com
Covid-19, e Aldo pedia ajuda financeira para o tratamento dela.
Imediatamente avisei a outros amigos tricolores, que colaboraram. Logo depois, o centroavante Fred anunciou a campanha em suas redes sociais, causando comoção entre torcedores do Fluminense. Espero que a campanha de arrecadação tenha sido um sucesso.
Tenho um grande carinho por todo aquele time, mas
especialmente por Aldo. Num time com tantas estrelas – Romerito, Assis,
Washington, Tato, Paulo Victor – e jogadores de seleção brasileira, como Ricardo
Gomes e Branco, Aldo era uma espécie de talismã.
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Nunca foi um craque de bola, mas era raçudo, marcava muito
bem e, mais importante, foi responsável por dois momentos antológicos de dois
Fla x Flus inesquecíveis.
O primeiro foi em 1983, no triangular final do Carioca. Com
um empate, o Flamengo eliminaria o Fluminense e decidiria o campeonato com o
Bangu. Logo no início do jogo, os torcedores do Flamengo soltaram um urubu. A
ave ficou sobrevoando o campo e, de repente, pousou no gramado.
O que aconteceu depois lembrou uma comédia “pastelão”:
funcionários da Suderj correndo atrás do bicho com redes e panos, tentando
capturá-lo, sem sucesso. A cada gingada do urubu, a torcida do Flamengo
delirava.
Depois de alguns minutos de confusão, alguns jogadores do Fluminense encurralaram o urubu próximo ao fosso da geral, e coube a Aldo pegá-lo. O bicho ficou tão nervoso que bicou o jogador no braço. Ao ver Aldo, urubu em mãos, tirando a ave agourenta do gramado, foi a vez de a torcida do Fluminense vibrar. Veja a comédia pastelão completa abaixo!
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Aos 43 do segundo tempo, Assis, o “Carrasco”, fez o gol que
eliminou o Flamengo e que viria a nos dar a taça.
No ano seguinte, em outro Fla x Flu decisivo, diante de 152
mil pessoas, Aldo foi à linha de fundo e fez um cruzamento perfeito para – quem
mais? - Assis, novamente, marcar, dessa vez de cabeça. E Aldo entrou,
definitivamente, para a minha galeria de ídolos.
Pensei muito em Aldo esses dias. Como escrevi, não era um
craque, mas isso não importa. Ídolos não precisam ser craques. Na verdade, ser
ídolo é muito mais importante que ser craque.
Todo time tem jogadores assim: nem sempre os mais habilidosos, nem sempre os mais refinados, mas jogadores com os quais o torcedor se identifica. Tenho certeza que todo leitor tem seus jogadores preferidos, e nem sempre eles são os melhores atletas de seu time.
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Numa época em que o futebol brasileiro vive uma crise profunda, com crianças torcedoras andando por aí com camisas do Barcelona e Liverpool, jogadores que vão embora pra Europa aos 17 anos e um desinteresse cada vez maior do público brasileiro, é importante lembrar esses jogadores que foram, cada qual à sua maneira, espelhos de seus times.
Ao Aldo, minha gratidão eterna.
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