colunas e Blogs
André Barcinski
André Barcinski

André Barcinski

Crônica

“O Jogo da Fogueteira”: eu fui. Ou quando Rosenery e Rojas quase tiraram o Brasil da Copa

Por
André Barcinski
31/03/2021 13:14 - Atualizado: 29/09/2023 19:59
“O Jogo da Fogueteira”: eu fui. Ou quando Rosenery e Rojas quase tiraram o Brasil da Copa
| Foto: Reprodução

Mais de 141 mil pessoas lotavam as arquibancadas do Maracanã naquele 3 de setembro de 1989. Brasil e Chile decidiriam uma vaga para a Copa de 1990. Ao Brasil, bastava o empate. Para o Chile, só a vitória interessava.

Eu estava numa posição privilegiada: sentado num banquinho, próximo a uma das bandeirinhas de escanteio, com uma lente 300 mm, fotografando a partida para o Jornal do Brasil. Mas eu não deveria estar lá. Era “foca” (novato de redação), tinha 21 anos e acabado de entrar na Editoria de Fotografia. Aquele jogo era muita areia pro meu caminhãozinho.

A verdade é que eu só estava em campo porque enchi tanto a paciência do editor, Orlando Brito, que ele permitiu que eu fotografasse parte do primeiro tempo, com uma condição: eu seria responsável por coletar, no intervalo do jogo, os filmes utilizados por todos os fotógrafos do Jornal do Brasil e trazê-los de volta à redação.

Explico: naquela época, em jogos
importantes, era comum fazer uma coleta de filmes no intervalo, para que o
laboratório de revelação (sim, outros tempos) não ficasse entupido de trabalho
ao fim da partida. Isso também dava mais tempo para que os editores pudessem
analisar com calma o material que chegava, buscando as imagens mais
impactantes.

A sede do Jornal do Brasil ficava no Caju, ao lado da rodoviária, bem perto do Maracanã. Ao fim do primeiro tempo, coletei os filmes de todos os fotógrafos e rumei para o estacionamento, onde encontrei um dos carros do jornal (sim, os jornais tinham frota própria) e voltei para a redação.

Cheguei ao jornal na metade do segundo
tempo, e o caos já havia se instaurado. Um rojão fora lançado da arquibancada
e, aparentemente, havia atingido o goleiro chileno Rojas, que saiu de campo
carregado pelos companheiros, sangrando mais que figurante em filme do Rambo.

Logo depois, veio o chamado: a polícia
havia prendido a pessoa responsável pelo rojão e a levado para uma delegacia
próxima ao Maracanã. “Barcinski, corre pra lá!”

Cheguei à delegacia, e a movimentação
de fotógrafos e cinegrafistas era tão grande que parecia que haviam prendido
algum grande traficante internacional. O clima era de fúria. Todo mundo tinha
certeza de que o Brasil seria eliminado da Copa.

No meio do fuzuê, vimos a pessoa responsável por aquela tragédia: uma mulher de 24 anos, loura e magrinha, funcionária da Light, chamada Rosenery Mello Nascimento Barcelos da Silva. Parecia aterrorizada com a situação. A partir daquele momento, Rosenery ganhou um apelido que o acompanharia por toda a vida: a Fogueteira do Maracanã.

O apelido era enganoso: Rosenery não era “fogueteira”, mas havia recebido um sinalizador marítimo da mão de um desconhecido. Tampouco era “do Maracanã”, porque, segundo ela mesma contou, era a primeira vez que ia ao estádio.

O resto da história,
todo mundo sabe: por alguns dias, Rosenery foi a inimiga pública número 1 do
Brasil, a responsável pela primeira ausência da seleção em Copas do Mundo. Para
felicidade do país – e, principalmente da própria Rosenery – a farsa logo foi
descoberta: o foguete havia caído longe de Rojas, mas o goleiro chileno usara
uma gilete para fazer um corte em sua própria testa, simulando a contusão
sangrenta. O Chile foi eliminado da Copa seguinte, 1994, e Rojas acabaria
banido do futebol.

Já Rosenery, inocentada, foi capa da “Playboy”, sob o título: “Estourando a festa, a nudez e a graça da Fogueteira do Maracanã”.

Veja também:
Athletico vence o Danubio e mantém 100% na Sul-Americana
Athletico vence o Danubio e mantém 100% na Sul-Americana
Acusações de Textor: CPI convida primeiro árbitro para depôr
Acusações de Textor: CPI convida primeiro árbitro para depôr
No aguardo do STJD, Manga completa seis meses sem jogar e terá desafios na volta
No aguardo do STJD, Manga completa seis meses sem jogar e terá desafios na volta
Guardiola revela planos de se tornar presidente do Barcelona
Guardiola revela planos de se tornar presidente do Barcelona
participe da conversa
compartilhe
Encontrou algo errado na matéria?
Avise-nos
+ Notícias sobre André Barcinski
Nada como um dia depois do outro…
Opinião

Nada como um dia depois do outro…

“14 Montanhas”: história incrível, num filme nem tanto
Opinião

“14 Montanhas”: história incrível, num filme nem tanto

Shackleton e os dois anos de luta pela sobrevivência na área mais inóspita do planeta
Opinião

Shackleton e os dois anos de luta pela sobrevivência na área mais inóspita do planeta