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Finais únicas são tentativas cafonas da Conmebol de “europeizar” futebol sul-americano

Por
André Barcinski
23/11/2021 14:34 - Atualizado: 04/10/2023 17:11
Finais únicas são tentativas cafonas da Conmebol de “europeizar” futebol sul-americano
| Foto: Albari Rosa/Foto Digital/UmDois Esportes

Há pelo menos dez anos escrevo
colunas e artigos sobre a decadência e elitização do futebol brasileiro. Não
sou nenhum vidente, mas sempre acompanhei futebol, frequento arquibancadas
desde os anos 1970, e eram claros, para qualquer observador atento, os sinais
de que algo profundamente errado estava acontecendo.

A destruição de estádios clássicos, como o Maracanã, e suas transformações em “arenas”, o fim dos setores populares nos estádios, a proibição de bandeiras, a imposição de torcidas únicas em jogos, tudo isso vem se acumulando há pelo menos uma década. E o resultado é o que vimos sábado passado na final da Sul-Americana, entre Athletico e Red Bull Bragantino.

Em primeiro lugar, antes que me
xinguem: os dois clubes não têm nada a ver com isso. Fizeram campanhas
brilhantes e mereceram chegar à final. Parabéns aos dois. Estou falando do “espetáculo”
montado pela corrupta e incompetente Conmebol, uma farsa ridícula, uma
tentativa cafona de “europeizar” o futebol sul-americano.

É um absurdo fazer uma final na
América do Sul em jogo único e estádio neutro. “Ah, mas na Europa é assim.” E
daí? A Europa tem uma tradição de jogos em estádios neutros porque as
distâncias a serem percorridas pelos torcedores são muito menores e existe um
sistema de transporte eficiente e barato. Fazer uma final entre dois times
brasileiros no Uruguai é buscar elitizar o público. Para piorar, os ingressos
foram vendidos a preços absurdos. O mais barato custava quase 600 reais (para a
final da Libertadores, que será disputada no mesmo local, o ingresso mais
barato custa o dobro, 1200 reais).

O resultado era previsível: estádio
vazio. Tão vazio que, numa manobra grotesca, a Conmebol juntou os torcedores no
meio do estádio, só para que as câmeras não mostrassem as arquibancadas às
moscas. Agora, imagine a final sendo disputada no Brasil, em dois jogos, perto
das torcidas e com ingressos a preços razoáveis. Teríamos dois espetáculos
lindos.

Em nome de uma suposta “modernização”,
estamos acabando – ou já acabamos – com nosso futebol. Claro que ninguém é a
favor de torcidas organizadas violentas ou de estádios com instalações
precárias, mas existe um meio-termo entre o caos e a elitização absoluta.

Hoje, ir ao estádio deixou de ser uma
festa. A população mais pobre não tem condições financeiras de pagar por
ingressos, e as arquibancadas estão cada dia mais cheias de turistas e de
pessoas fazendo “selfie”. Ir ao Maracanã era uma de minhas maiores alegrias.
Hoje, não vou mais.

Se quisermos salvar nosso futebol – e não falo só do jogo, mas de tudo que ele envolve: a torcida, a festa, a descontração, a diversidade nas arquibancadas – precisamos dar uma guinada radical. Parar de copiar só o que o esporte europeu e norte-americano tem de ruim, e copiar o que eles têm de melhor, como estádios bonitos, confortáveis e de fácil acesso e, principalmente, o “fair play” financeiro visto em alguns países. Pra ontem.

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