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Federer vs. Fish retrata bem drama de atletas de ponta, mas faz jornalismo irresponsável

Por
André Barcinski
28/09/2021 18:07 - Atualizado: 04/10/2023 17:27
Federer vs. Fish retrata bem drama de atletas de ponta, mas faz jornalismo irresponsável
| Foto: Oliver Weiken/EFE

Recentes casos envolvendo a ginasta norte-americana Simone Biles e a tenista japonesa Naomi Osaka trouxeram à tona um assunto pouco falado: atletas de ponta que sofrem com problemas de saúde mental. Para quem se interessa pelo tema, uma boa pedida é ver o documentário “Federer vs. Fish”, na Netflix.

O filme conta a história de Mardy Fish, um tenista norte-americano que surgiu como uma promessa do esporte no início dos anos 2000 e chegou a número 7 do mundo em 2011, mas que sempre sofreu com ansiedade e ataques de pânico, que atingem o auge em 2012, quando ele decide não entrar em quadra para enfrentar o suíço Roger Feder pela quarta rodada do US Open.

O filme faz parte
da série “Untold” e é muito bem feito, embora cometa um grave pecado
jornalístico (mais sobre isso daqui a pouco).

A qualidade das
cenas de arquivo impressiona. Fish é mostrado ainda criança, treinando e
disputando torneios infantis. Adolescente, é recrutado pela Associação de Tênis
dos Estados Unidos para um programa de treinamento intensivo num centro na
Flórida, onde faz amizade com Andy Roddick.

O filme segue as
carreiras de Roddick e Fish e mostra como o primeiro desponta como a grande
promessa do tênis americano, especialmente depois de vencer o US Open de 2003.
Na mesma época, no entanto, surgem monstros como Federer, Nadal e Djokovic, que
passaram a dominar o esporte.

Fish é um tenista
talentoso, mas que parece contente em ter uma carreira mediana. Vence alguns
torneios, mas não se destaca. Perde nove jogos seguidos para o amigo Roddick,
até que, em 2010, dá uma reviravolta na carreira, muda de treinador,
intensifica os treinos, perde 16 quilos e chega ao fim de 2011 na sétima
posição do ranking da ATP.

É aí que seus
problemas de saúde mental se intensificam, culminando no melancólico abandono
do jogo contra Federer no US Open.

A exemplo de muitos
documentários recentes, que privilegiam drama em detrimento de fato, “Federer
vs. Fish” usa um expediente jornalisticamente irresponsável: esconde
informações para tornar a narrativa mais interessante. Vendo o filme, temos a
impressão de que Fish abandonou a carreira em 2012, logo após o jogo contra
Federer, e só retornou três anos depois, após uma longa crise depressiva e de
um intenso tratamento.

O problema é que
isso não é verdade. Fish jogou durante quase todo o ano de 2013 e só anunciou
que pararia em 2014, para tratar de sua desordem de ansiedade e se recuperar de
uma cirurgia cardíaca. Mas ele volta a competir em 2015 e decide abandonar de
vez o tênis no mesmo ano, após o US Open. O filme dá a impressão de que ele só
volta em 2015 a convite do amigo Andy Roddick, para jogar duplas.

Fiquei um pouco triste depois de ver o filme e descobrir, na Internet, que tantos “fatos” mostrados haviam sido manipulados ou mesmo escondidos para tornar a narrativa mais envolvente. Mas que a história de Mardy Fish é interessante, isso é.

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