Crônica

Quando um gênio da literatura encontrou um gênio dos ringues

James Ellroy e Eder Jofre.

Los Angeles,
novembro de 1960: um menino de 12 anos vai com o pai ao Grand Olympic
Auditorium ver uma luta de boxe. É a disputa do cinturão mundial dos
pesos-galo. A luta é dura, mas um golpe certeiro no sexto assalto derruba o
atual campeão e consagra um novo astro. O menino, a partir daquele instante, se
torna um obcecado por boxe. Isso alivia um pouco a dor pela perda da mãe,
assassinada dois anos antes.

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Corta para 51 anos depois. Em Paraty, cidade litorânea do sul fluminense, encontro o menino. Ele é James Ellroy, celebrado autor de romances policiais e convidado da Festa Literária de Paraty, a FLIP. Ellroy é meu autor predileto, e tenho a sorte de entrevistá-lo para a Folha de S. Paulo.

Na entrevista, falamos sobre muitas coisas: a infância de James, a morte da mãe, um trauma que o influenciou a seguir a carreira de autor policial, suas influências literárias e seus livros extraordinários, como “Dália Negra”, “Los Angeles – Cidade Proibida” e meu favorito, “Tablóide Americano”.

Mas Ellroy quer mesmo é falar de Eder Jofre.

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Naquela
noite de 1960, Ellroy viu Jofre batendo o mexicano Eloy Sanchez para conquistar
o título mundial. Desde então, Jofre é um de seus maiores ídolos. “Ele
demoliu Sanchez. Foi um massacre. Eu nunca tinha visto um lutador com tanta
velocidade e força. Para
mim, Jofre foi o maior lutador do mundo entre 1959 e 1964”.

Ellroy realmente sabe tudo sobre Jofre: fala de suas maiores lutas e reclama das duas únicas derrotas da carreira do brasileiro, decisões contestadas contra o japonês “Fighting” Harada: “Jofre foi roubado!”.

Minha entrevista é publicada na Folha. Alguns dias depois, Ellroy vai a São Paulo para uma série de debates e sessões de autógrafos. E quem aparece de surpresa numa delas?

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Eder Jofre.

Numa reportagem de TV, vi Ellroy abraçando Eder e falando dele com devoção: “Você é um dos maiores de todos os tempos.” Jofre certamente não conhecia Ellroy, mas parecia genuinamente comovido pela admiração do escritor. Há fotos dos dois abraçados e sorrindo. Ellroy, que não é de sorrir, está se desmanchando em afeto. Parece um moleque de 12 anos de idade diante de seu ídolo.

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