Crônica

O grande teatro da pancadaria. Viva la lucha libre!

Se a molecada atual adora a pancadaria realista do MMA, na minha juventude a onda era a lúdica e teatral luta livre.

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Eu adorava assistir a programas de “telecatch” na TV e acompanhar lutadores como Fantomas, King Kong, Tigre Paraguaio e Flecha Ligeira.

Esse gosto nunca me abandonou. Vinte e tantos anos depois,
já adulto, passei a frequentar em São Paulo as exibições da Trupe do Trovão, um
grupo que mantém viva a tradição da luta livre brasileira com máscaras,
fantasias estilosas e muito bom humor.

Por isso, minha primeira visita ao México, há cinco anos, foi tão marcante. É o país da lucha libre. A meca. Onde tudo começou.

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Procuramos indicações de lugares onde assistir a exibições
de lucha libre, e a maioria dos guias e sites indicava a Arena México. Olhamos
as fotos do lugar e não curtimos. Era bonitinho demais, asseado, parecia
armadilha de turista. Fica a dica: se o Trip Advisor indica, pode fugir que é
roubada.

Optamos pela menor e bem mais “raça” Arena Coliseo, e nossa escolha foi acertada. Num domingo à tarde, praticamente só havia famílias mexicanas por lá. Nada de turistas. O lugar era muito simples e os ingressos custavam um terço dos anunciados na Arena México.

Arquivo pessoal/André Barcinski

Vimos seis ou sete lutas, incluindo um brutal combate de duplas femininas. Nossos filhos, que tinham, à época, 4 e 8 anos, vibraram com as roupas coloridas e as coreografias engraçadas. A lucha libre é, no fundo, um grande teatro, uma peça dramática onde cada personagem tem uma função – há o mocinho, o bandido, o juiz ladrão, etc. – e as crianças reagem apaixonadamente ao drama.

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Arquivo pessoal/André Barcinski

Gostamos tanto que fizemos questão de visitar arenas de lucha libre em todas as cidades que visitamos. A mais divertida foi em Oaxaca, no sul do país. Pegamos um táxi e perguntamos ao motorista se ele poderia nos levar ao lugar onde havia lutas. Ele sacou do bolso o celular e mostrou fotos de seus dois irmãos – Vingador e Fantasma Jr. – que eram luchadores e iriam se apresentar naquela mesma tarde, num pequeno e modesto ginásio nos arredores da cidade.

Arquivo pessoal/André Barcinski

Foi fascinante observar a alegria dos mexicanos com a lucha libre. Eles pulavam das cadeiras, vaiavam os bandidos e vibravam com os mocinhos. Para eles, a modalidade tem raízes históricas profundas e centenárias. As máscaras dos lutadores remetem aos astecas, e cada lutador tem uma personalidade própria.

Para nós, leigos no assunto e sem apego histórico, a lucha libre foi uma maravilhosa diversão, um espaço onde o tempo parece parado e todos – público, lutadores, juízes – participam do espetáculo. Não vemos a hora de voltar…

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