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André Barcinski
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Opinião

Bangu e Coritiba de 85 é o retrato de uma época que não volta mais. E eu estava no Maracanã

Por
André Barcinski
24/02/2021 13:11 - Atualizado: 29/09/2023 20:06
Coritiba e Bangu no Maracanã.
Coritiba e Bangu no Maracanã. | Foto: Agência O Globo

Assisti à série “Doutor Castor”, na Globoplay, sobre o bicheiro Castor de Andrade. A história da vida de Castor é interessante, mas os trechos sobre o Bangu Atlético Clube, time que Castor bancou nos anos 80 e transformou numa potência futebolística, são os mais legais da série.

Acompanhei de perto aquele time. Nasci em 1968 e frequentei
o Maracanã desde criança, mas foi no início dos anos 80 que comecei a ir
sozinho aos estádios.  E dei sorte,
porque vi grandes jogos e grandes craques.

Todos os times do Rio tinham jogadores excepcionais. Sou torcedor do Fluminense e tive a sorte de ver o time tricampeão carioca (83-84-85) e campeão brasileiro de 1984, que tinha Romerito, Ricardo Gomes e a dupla Washington e Assis, que veio para o Tricolor após grande sucesso no Athletico.

Mas eu não via só jogos de meu time. Cansei de ir ao
Maracanã e a outros estádios ver o Vasco de Roberto Dinamite e Romário, o
Flamengo de Zico e Júnior, e o Botafogo de Mendonça e Alemão. Até o América
tinha um timaço, com Luisinho Guerreiro e Renato.

Os times de outros estados eram verdadeiros escretes. Tive a felicidade de ver Sócrates, Falcão, Careca, Casagrande, Cerezo, Paulo Isidoro, Pita, Dicá, Serginho Chulapa, Batista, enfim, um estoque inesgotável de excelentes jogadores. Era uma época em que não havia o êxodo em massa de atletas brasileiros para a Europa, e muitos craques ainda jogavam no Brasil.

Não quero transformar esse texto numa ode melancólica a
tempos passados, mas a verdade é que o futebol brasileiro dos anos 80 era muito
mais legal e divertido do que o de hoje. Sinto saudades de coisas que hoje não
existem mais, como estádios lotados, repletos de bandeiras e batucada, e com a
as arquibancadas divididas em duas torcidas.

Os campeonatos estaduais eram valorizados e atraíam os
maiores públicos aos estádios. No Rio, jogos com mais de 100 mil pessoas eram
corriqueiros. Vi dois com mais de 150 mil: Brasil x Alemanha, amistoso em 1982,
e o Fla x Flu da final do Carioca de 1984.

A principal diferença entre o futebol dos anos 80 e atual,
além da óbvia superioridade técnica dos jogadores, era a presença de grandes
times “menores”. De vez em quando, um time com menos tradição surgia e nos
encantava.

Fui com meu pai ao Maracanã em 1978 ver a semifinal do
Brasileirão, Vasco x Guarani. O Vasco havia sido campeão no ano anterior e
tinha um timaço, com Dinamite, Dirceu, Zanata e Marco Antônio. Mas o Guarani
tinha Zenon, Capitão, Careca, Zé Carlos e Bozó. Naquela tarde, Zenon marcou
dois gols antológicos: um chute de fora da área, no ângulo, e uma cobrança de
falta perfeita. Nos dois gols, o goleiro do Vasco, Mazzaroppi, nem se mexeu.

Nos anos 80, me emocionei com a Inter de Limeira campeã
paulista de 1986, o América semifinalista do Brasileirão de 1986, e o Bahia
campeão nacional de 1988.

Era uma época em que a “espanholização” do futebol
brasileiro, projeto levado a cabo ao longo dos anos 2010 por meio de diferenças
cada vez mais abissais de valores de cotas de TV, ainda não havia começado. As
competições eram muito mais justas e equilibradas do que hoje.

E o jogo mais marcante daquela época de equilíbrio foi a final do Brasileirão de 1985, entre Bangu e Coritiba. Eu estava no Maracanã em 31 de julho de 1985 e vi a vitória épica do Coxa, nos pênaltis, sobre o favorito Bangu.

Revendo as imagens daquele jogo, me transportei para a arquibancada lotada do Maracanã, com quase cem mil pessoas. Havia uns dez mil torcedores do Coritiba, e uma massa gigantesca torcendo para o Bangu. A grande maioria, claro, torcedores de outros clubes do Rio, dando uma força para o time local.

Foi um dia especial e que nunca esquecerei. Retrato de uma época que não volta mais. Como imaginar, hoje, uma final como Bangu x Coritiba?

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