Jogador do América-MG é liberado da prisão após injúria racial contra atleta do Operário

O boliviano Miguelito, do América-MG, foi liberado da prisão no início da tarde desta segunda-feira (5), após cometer o crime de injúria racial contra o meia Allano, do Operário, e ser detido depois do jogo válido pela sexta rodada da Série B, neste domingo (4).
O jogador teve a liberdade provisória concedida e vai responder ao processo fora da prisão. A pena máxima para crimes de injúria racial e racismo é de até 5 anos de reclusão.
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Em depoimento à Polícia Civil, Miguelito negou que tenha proferido a expressão "Preto do ca*****" contra o jogador do Fantasma. Segundo o atleta, ele disse "Mer** do ca*****", misturando português e espanhol na fala. O documento foi divulgado inicialmente pela ESPN.
O América-MG ainda publicou uma nota em que diz que "confia na palavra de seu atleta". Segundo o clube, Miguelito desembarca ainda hoje de volta à Belo Horizonte.
Miguelito foi preso em flagrante por fala racista
Miguelito foi preso em flagrante logo após a partida em Ponta Grossa, que terminou em 1 a 0 para o Operário. De acordo com a Polícia Civil, o boliviano proferiu a expressão "Preto do ca******" contra Allano. Jacy, capitão do Fantasma, confirmou a ofensa racial.
O árbitro Alisson Sidnei Furtado acionou o protocolo de racismo, simbolizado por um X com os braços, e paralisou a partida por volta dos 30 minutos do primeiro tempo. O jogo ficou parado por 12 minutos.
O Operário afirmou que tomou todas as medidas cabíveis e que auxilia a polícia na busca por imagens que comprovem o ato racista. A equipe explicou que vai seguir prestando apoio jurídico e psicológico ao meia Allano e que "confia que a Justiça tratará o caso com a seriedade e responsabilidade".

Allano se pronunciou sobre o caso de racismo em Operário x América-MG
"Venho, por meio desta nota, me manifestar sobre o episódio lamentável de injúria racial que sofri durante a partida entre Operário e América Mineiro, pelo Campeonato Brasileiro da Série B.
Infelizmente, mais uma vez, o racismo mostrou sua face cruel dentro de um espaço que deveria ser de celebração, respeito e igualdade. Ser ofendido pela cor da minha pele é algo doloroso, revoltante e, acima de tudo, inaceitável.
Não vou me calar. Não por mim apenas, mas por todos os que já passaram por isso e por aqueles que ainda lutam para que esse tipo de violência acabe de vez. O futebol, como a sociedade, precisa dizer basta ao racismo. Precisamos de justiça, responsabilidade e, sobretudo, empatia.
Agradeço ao Operário pelo apoio, aos meus companheiros de equipe, à minha família e a todos que têm se solidarizado comigo neste momento. A luta contra o racismo é de todos nós, e ela não vai parar enquanto houver injustiça", se pronunciou o atleta, em nota.
Miguelito negou ofensas racistas em depoimento
"Eu quero falar. O que aconteceu foi depois de um lance, uma falta que aconteceu com ele. Mas já havia acontecido faltas antigas. Tiveram três coisas que eu falei, mas em nenhum momento fui falar diretamente olhando para ele. Primeiro falei "cagão", pela falta. Mas não foi para o jogador, foi para o juiz, que estava dando umas faltas que a gente chama sem sentido, quando vamos trombar com os caras.
Depois eu falei uma expressão, meio que em espanhol e português: "mer** do ca*****".
Mas em nenhum momento eu cheguei e falei com ele diretamente. Foi uma expressão que eu tive porque estavam acontecendo com ele as faltas e tal. Não falei mais nada. Quando eu viro a cabeça pra ele, eu não falo nada. Como eu falei devagar, nem olhava pra ele, ele teve uma reação muito rápida, estava bolado com os lances, brigando com todo mundo, discutindo, e ele começou a falar: "você falou preto".
Eu olhei sem entender nada, foi quando ele chegou em mim e começou a falar: "Você me chamou de preto! Você me chamou de preto". Eu olho para ele com cara de quem não estava entendendo o que ele estava falando. Aí chegou o companheiro dele e começou todo mundo a chegar perto, a briga e parou o jogo. Depois mais nada"
Sim [nega que tenha falado "preto do ca*****"], eu só falei isso.
Quando eu viro a cabeça, tem duas vezes que eu olho pra ele. Tem uma, que quando eu estou passando por ele, eu falo "ca*****"', a palavra "merda do ca*****". Quando eu estou na frente e ele atrás, e eu giro a cabeça, foi quando ele começa a falar: "Você falou preto", e eu achei que ele não estava falando comigo. Quando ele chega pela frente falando "Você falou preto", apontando pra mim, aí eu não entendi nada. Foi quando chegou o amigo dele [Jacy]", disse Miguelito, em depoimento à Polícia Civil.