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Ziquita, o Herói do Povo 

Por
Sandro Moser, especial para UmDois Esportes
04/02/2024 00:01 - Atualizado: 01/02/2024 23:21

Já fucei bastante em livros de história do futebol atrás de façanha comparável àquela que Ziquita perpetrou na Baixada no dia 5 de novembro de 1978. Não há. 

A história é conhecida em todo o mundo: em partida classificatória para as finais do Paranaense, o CAP perdia por 4 a 0 com um jogador a menos até os 30 minutos do segundo tempo.

No gol da rua Buenos Aires, Ziquita diminuiu de peixinho e nos 13 minutos seguintes não apenas empatou o jogo como, no minuto 44, cabeceou a pelota no travessão e quase fez o quinto.

Comprado no início do ano do Comercial de Ribeirão Preto (sempre trazemos jogadores bons de lá) por cerca de R$ 800 mil atuais, o mineiro de Caratinga chegou ao Furacão aos 25 anos no esplendor de sua força rompedora.

Fazia uma boa temporada até aquele domingo. Dali em diante, seu feito sem precedentes mudou o futebol, pois ninguém jamais conseguiu fazer quatro gols neste tempo (raríssimo) para empatar um jogo perdido por 4 a 0 (estatisticamente impossível).

Imagino o jogo nesta era das apostas: “O que vai acontecer nos próximos 10 minutos?” Ziquita marca mais três gols. Jogando 10 reais, o sujeito poderia se aposentar.

Pois o futebol é amado no mundo todo, da Sibéria a Sete Lagoas (MG), onde Ziquita vive, aos 71 anos, porque o gol é item raro. A estatística mostra que sai, em média, um gol, a cada 70 minutos e a magia do jogo é justamente a lógica da recompensa adiada.

Mas Ziquita fez o que fez porque, já diria Cruyff, algumas coincidências são ilógicas e, no Athletico, o improvável fica dentro de um padrão próprio de tragédia e insanidade épicas. 

Aquele dia também é histórico pois os 8.276 pagantes testemunharam o ápice estético do velho Athletico. Magicamente imortalizados na lente do Lucimar do Carmo, o popular Socó, na Tribuna. 

A foto de Ziquita parado no ar após saltar das profundezas com a camisa branca “ensanguentada” tal qual o avental do açougueiro que destrinchou um bicho, ante a muda estupefação dos bocas-negras e a imponência dos vitrais rubro-negros nas janelas do ginásio, está entre as três melhores imagens dos 100 anos do Athletico.

Quem presenciou in loco, fala da maior catarse coletiva já vista em um estádio. Tenho certeza que foi.

A proeza foi contada ao Brasil em crônica de Nelson Rodrigues e tornou Ziquita uma lenda no futebol mundial. Porém, quando ele veio a Curitiba em 2004 não tinha ideia do tamanho da idolatria de gerações de atleticanos. Antes da era da selfie, ele precisou inventar um autógrafo para assinar as camisas e fotos.

Em 2009, em outra visita à Baixada, Jefferson de Almeida, o fera que teve a manha de invadir o campo e pegar a camisa histórica de Ziquita a devolveu ao goleador. Hoje, ela é patrimônio do clube.

Naquela segunda-feira de 78, um dia após o jogo, a Revista Placar saiu às bancas do país com uma matéria de título belíssimo: "Ziquita, Herói do Povo”. Passados 45 anos, ouso acrescentar que, por sorte, este povo é o rubro-negro.

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