Presumo que ocorra esse fato: quem vai ao CT do Caju e não conhece a sua população pode ficar confuso para se comunicar. Lá exige-se dois idiomas: português e espanhol. E, ainda, o espanhol, às vezes, em dialetos diferentes.

Como no Furacão, não há entre os grandes clubes nenhum que não tenha um jogador originário de um país sul americano. Desse fato provocam-se duas questões.

A primeira é investigar a razão pela qual o mercado sul-americano, que era subsidiário para abastecer o futebol brasileiro, tornou-se o principal?

A resposta é simples. As consequências da Lei Pelé esgotaram a força dos clubes em continuar massificando a busca e a revelação de jogadores brasileiros.

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É que o contrato de trabalho sendo por prazo determinado deslocou os direitos que eram dos clubes para os empresários. E esses manipulando os jogadores, usam-os como instrumentos para criar situações que antecipam o termo final do contrato para ganho com negócios. Daí decorre a obrigação dos clubes em negociá-los para ter benefícios financeiros. Os benefícios técnicos são mínimos.

Em razão desse fato, tornou-se muito oneroso o investimento nas categorias de base. Despeja-se milhões para revelar um ou outro jovem. À exceção do Palmeiras, nos últimos anos, nenhum outro clube revelou um grupo de jovens talentosos na mesma época. Não é mais possível ter uma geração inteira de grandes jogadores. Os craques são exceções. O próprio Flamengo, que era o exemplo de formador de ídolos, tornou-se o maior comprador do Brasil.

A solução imediata para ter um jovem e em condições de entrar na formação de disputa para competições, passou a ser esse mercado paralelo. E isso só se tornou possível porque clubes brasileiros enriqueceram na mesma proporção de que outros sul-americanos empobreceram. Os argentinos, inclusive.

No entanto, o risco do erro aumenta. Dos jogadores que há tempo circulam por aqui são jogadores comuns, o que implica em que o craque é exceção, como Arrascaeta e Gustavo Gómez.

No Athletico, ainda está para vir um grande jogador “estrangeiro”. Históricos recentes até agora foram Lucho González e Marco Ruben, mas em final de carreira. Dos atuais, é certo que o lateral-esquerdo Lucas Esquivel será grandioso. Mateo Gamarra e Romeo Benítez são apostas, como continuam sendo Canobbio e Zapelli.

A médio prazo, não haverá outra alternativa para se formar time. Nem o orgulho de ser o maior produtor de “pé de obra” o Brasil conseguiu manter.