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Novo técnico do Athletico

Muito além de bilhetinhos: as facetas e a história por trás de Juan Carlos Osorio

Por
Monique Silva
04/01/2024 23:54 - Atualizado: 05/01/2024 14:37
Juan Carlos Osorio nos braços dos torcedores do Atlético Nacional: seis títulos em três anos
Juan Carlos Osorio nos braços dos torcedores do Atlético Nacional: seis títulos em três anos | Foto: Arquivo/ EFE

Em vermelho, o mais importante; em azul, todo o resto. Duas canetas e um caderninho na beira do gramado. Agachado, anota tudo e entrega bilhetes aos jogadores no meio do jogo. A cena já se repete há quase 20 anos e agora fará parte da rotina dos jogos do Athletico. A bola da vez no Furacão atende pelo nome de Juan Carlos Osorio. Estará nas mãos – e nas anotações – do colombiano de 62 anos que o clube deposita as fichas no ano de seu centenário.

Nos treinamentos, costuma guardar as canetas de cores diferentes, uma em cada meia, para eventuais orientações. Tudo fica registrado em seu fiel caderno, a famosa "libreta", nos mínimos detalhes. Aprendeu a prática com o pai quando criança. Já escreveu tanto que saiu até um livro, "O Caderno de Osorio, meu modelo de gerenciamento", lançado em 2015.

"Vermelho não é o que está errado, é o mais importante. E em azul escrevo o resto. Eu não criei nada, quem me ensinou foi meu pai, desde muito pequeno. Tem que escrever. É melhor um lápis pequeno do que uma memória grande", explicou em entrevista ao Esporte Espetacular.

Osorio estava no futebol egípcio e volta ao Brasil depois de nove anos. Ex-jogador, já foi preparador físico e auxiliar antes de ser técnico, trabalhou na Inglaterra, fez sucesso nos Estados Unidos e foi auxiliar no Manchester City por cinco anos. Apelidado de "Lorde" na Colômbia pela educação, é obcecado pelo trabalho. Com perfil estudioso, é do tipo que esmerilha os adversários nos mínimos detalhes e apaixonado por tática. Detalhista e perfeccionista, gosta de trabalhar integrando base e profissional. No São Paulo, por exemplo, chegou a trabalhar com 14 jogadores revelados na base em um período de quatro meses.

As várias facetas de Juan Carlos Osorio

Juan Carlos Osorio Arbeláez nasceu em Santa Rosa de Cabal, no departamento de Risaralda, na Colômbia, mas passou toda a infância no município de Anserma. Cresceu nas regiões cafeeiras, fez do estudo sua obsessão e superou obstáculos para se tornar jogador de futebol profissional e, mais tarde, treinador.

O avô materno dá nome a um estádio em sua cidade natal, Arturo Arbeláez. Já o pai, Hernán Osorio, trabalhava em um laboratório farmacêutico. Torcedor do Atlético Nacional, por muito tempo foi alcoólatra. Morreu no dia 13 de fevereiro de 2023, em Pereira. Os problemas de saúde enfrentados pelo pai, aliás, fizeram com que o treinador recusasse várias propostas do exterior nos últimos anos.

“Há bons jogadores e maus. Tem os que gostam de se dedicar e viver para o futebol e outros que não. Tive este problema em casa, meu pai era um homem ótimo e trabalhador, mas por muito tempo foi alcoólatra. Os brasileiros e colombianos gostam de festa e bebida, mas os ingleses e escoceses são os que mais gostam no mundo e eu convivi com eles por seis anos", disse em entrevista ao programa Bola da Vez, da ESPN, quando dirigiu o São Paulo em 2015.

Um de seus filhos é jogador de futebol. Juan Sebastián Ceballos nasceu nos Estados Unidos, é meio-campo e já foi convocado para a seleção sub-17 da Colômbia. Hoje com 20 anos, jogou no Deportivo Pereira e América de Cali e estava no Leones FC, de Itagüi.

Passado como jogador e trabalho como pedreiro

“Sempre levei o futebol muito a sério, desde muito jovem treinei bem”.

Osorio deu seus primeiros passos no futebol na Escola Pedro José Rivera, em sua cidade natal, Santa Rosa, na época como goleiro. Aos 12 anos se mudou com a família para Pereira, onde a carreira começou a deslanchar. Mudou de posição, passando a jogar no meio-campo, quando entrou nas categorias de base do Deportivo Pereira, onde estreou como profissional, em 1982. Chegou até a integrar a seleção colombiana sub-20 ao lado de nomes como Carlos Valderrama.

Sua vida e futuro pareciam estar destinados a ser jogador, mas uma grave lesão no joelho mudou totalmente seus planos. Osorio deu um tempo no futebol, saiu da casa dos pais e decidiu se mudar para os Estados Unidos, aos 24 anos, para estudar inglês. Apoiado pelo avô, conciliava estudo e futebol, trabalhava em restaurantes como garçom e também na construção civil. Durante um ano sua companhia era uma britadeira. Depois ganhou uma bolsa na faculdade para cursar Ciências do Exercício Físico e Rendimento Humano em Connecticut. A rotina era sempre a mesma: estudava, jogava e trabalhava.

Já formado, dirigiu equipes amadoras de Nova York e passou por diversos clubes do estado durante cerca de seis anos, sendo auxiliar e preparador físico. Em 2000, ganhou a primeira chance como assistente no MetroStars, primeiro nome do New York Red Bulls, em 2000. Fez especialização em ciências do futebol na Universidade John Moores, em Liverpool – foi lá onde obteve a licença “A” para treinadores da Uefa e aprendeu mais sobre pedagogia, metodologia e estrutura dos treinos. Em 2001, recebeu um convite do então técnico inglês Kevin Keegan para trabalhar como preparador no Manchester City, onde virou auxiliar e ficou até 2006, muito antes da era "rica" do clube.

“Eles me entrevistaram com outros 24 candidatos. Depois saíram quatro e após algumas sessões de trabalho, duas semanas depois, Kevin me ligou para avisar que eu havia sido escolhido”, relembra Osorio.

Aos 35 anos, tomou, então, a decisão de seguir a carreira como treinador. A primeira oportunidade para mostrar suas qualidades apareceu no Millonarios-COL, em 2006. Foi lá que ganhou o "ingrato" apelido de "El recreacionista". Seus métodos de treinamentos incluíam os trabalhos físicos com a bola, e provocavam risos nos jogadores, segundo o jornalista Antonio Casale, do jornal colombiano El Espectador.

Ao longo da carreira, também dirigiu outras equipes do seu país como Once Caldas e Atlético Nacional; na MLS comandou Chicago Fire e New York Red Bulls; passou pelo futebol mexicano à frente do Puebla e teve apenas uma experiência no Brasil, no comando do São Paulo, em 2015. Também foi técnico das seleções do México e do Paraguai. Seu último clube foi o egípcio Zamalek.

"Ele sente o futebol com paixão, como só uma criança consegue sentir com seu jogo preferido", escreveu o jornalista Antonio Casale, em um artigo no site El Espectador em 2018

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Auge no Atlético Nacional e passagens por seleções

À frente do Atlético Nacional, Osorio viveu seu auge e conquistou seis títulos em três temporadas: Copa da Colômbia 2012, Superliga da Colômbia 2012, torneio Apertura 2013, torneio Finalizacion 2013, Copa da Colômbia 2013 e torneio Apertura 2014. Técnico mais vitorioso da história do clube, é muito querido pela torcida.

O maior objetivo de sua carreira era comandar uma seleção em uma Copa do Mundo. Conseguiu por duas vezes. Primeiro com o México, em 2018, quando aceitou um convite da federação e deixou o São Paulo. Com o técnico no comando, a seleção passou pela Alemanha na fase de grupos da Copa do Mundo e chegou até as oitavas de final – foi eliminada pelo Brasil. No total, foram 52 jogos, com 33 vitórias, nove empates e 10 derrotas, o melhor aproveitamento à frente da seleção nos últimos 28 anos.

Depois, assumiu a seleção do Paraguai, mas só comandou uma partida – um empate em 1 a 1 com a África do Sul, amistoso realizado em novembro de 2018. Alegou razões familiares e saiu em fevereiro do ano seguinte, após cinco meses.

Osorio como técnico do Atlético Nacional e das seleções do México e Paraguai
Osorio como técnico do Atlético Nacional e das seleções do México e Paraguai

Rodízio constante e rotina de treinos

Exigente, Osorio gosta de atividades em alta intensidade, competitivas, é adepto do futebol ofensivo e também se atenta ao lado humano dos jogadores, acreditando que o diálogo é parte fundamental dos treinos. A característica mais marcante em suas ideias é o rodízio constante na escalação. Quando comandava o Atlético Nacional, por exemplo, chegou a ficar sem repetir formações por 149 partidas ou três anos. Já na seleção do México, colocou em campo 49 formações em 49 jogos.

Favorável a oportunizar atletas, ele entende que o rodízio é um princípio do jogo e que cada um pode render bem em pelo menos duas posições.

"É um grande desafio e, dentro disso, está que os jogadores entendam que o rodízio não é um princípio do jogo, mas sim da vida. Não se comparam jogadores por dinheiro, história ou prestígio. Isso tudo se respeita. Mas em um grupo de trabalho todos devem ser igualmente importantes", falou em sua apresentação no Morumbi.

Um dos clubes onde o treinador aplicou seu método foi no São Paulo. Além das mudanças corriqueiras nos times titulares, também fez inovações e mudou jogadores de posição. Teve quem não gostou. Um dos episódios envolveu Ganso, que não gostou de ser substituído em uma partida contra o Coritiba, no Brasileirão de 2015, se recusou a cumprimentar o treinador e ainda chutou um copo d’água antes de ir para o banco.

Passagem pelo São Paulo

A única experiência de Osorio no futebol brasileiro foi em 2015, quando dirigiu o São Paulo por quatro meses e meio. Na época, ele pediu demissão após aceitar um convite para comandar a seleção do México. No Tricolor paulista, adotou como hábito chamar os jogadores pelo primeiro nome. Pato virou "Alexander", em referência ao nome Alexandre; Souza era "Josef" e Centurión, "Ricardo".

"Dizem que o que é mais importante para o ser humano é o seu nome. Por isso, faço questão de chamar pelo primeiro nome", falou em entrevista.

Durante sua passagem pelo clube, estudou português e ainda se viu no meio de um período turbulento político, além da situação financeira complicada e a saída de oito jogadores, inclusive fazendo críticas públicas à diretoria tricolor pelas vendas.

"Acontece que se eu entro numa disputa, eu escuto e emito minha opinião. Entendo a posição do clube de vender jogadores, mas não concordo. Prefiro ganhar pouco e ter chance de brigar pelo título".

Juan Carlos Osorio dirigiu times como Atlético Nacional e São Paulo
Juan Carlos Osorio dirigiu times como Atlético Nacional e São Paulo

Agressão a jogador

Em 2022, Osorio foi protagonista de uma agressão durante uma partida na Colômbia pela primeira fase da Copa Sul-Americana. Então técnico do América de Cali, o treinador pisou no atacante Juan Mosquera, do Independiente Medellín. O jogador havia caído próximo ao banco de reservas quando recebeu o pisão (veja abaixo). Segundo relatos da imprensa local, o técnico ainda teria chamado o adversário de “maricas”. Ele não foi punido.

O jogo terminou 2 a 1 para o América de Cali no tempo normal, levando a decisão para os pênaltis. O Independiente Medellín venceu o duelo por 3 a 1 nas cobranças, e o time de Osório foi eliminado da Sula. Depois do jogo, o zagueiro Cadavid, do Independiente, gravou um vídeo e fez questão de provocar o treinador. "Por que não pisa em mim?".

Veja 26 curiosidades sobre Juan Carlos Osorio:

A thread no "X", antigo Twitter, foi publicada pelo jornalista Juan Sebastián Pérez. Confira a partir do tweet abaixo:

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