Da frustação na Europa à artilharia das Américas: conheça mais de Mastriani
O 9 está na área! O atacante Gonzalo Mastriani chegou ao Athletico na última segunda-feira (29) com status de principal contratação do ano e de artilheiro.
Mas a negociação entre Furacão e América-MG não foi simples. Foram mais de 40 dias entre idas e vindas até a assinatura do contrato, válido até o fim de 2026. O Rubro-Negro vai desembolsar cerca R$ 10 milhões por 100% dos direitos do jogador.
Aos 30 anos, o centroavante foge da tradicional filosofia de contratações do clube, de comprar atletas mais jovens pensando em revenda. Mas, para o centenário, o foco do Furacão é montar um time competitivo e faltava um artilheiro para substituir Vitor Roque. Não falta mais.
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"Foi uma novela, levou bastante tempo, mas no final terminou dando certo. Era o que todas as partes queriam e estou muito feliz por estar aqui. O Athletico foi o primeiro clube a me procurar e isso foi muito importante para mim. Tudo o que me foi falado de bom do Athletico, nos poucos minutos que tenho aqui, dá para perceber. As metas, a ambição, tudo o que o Athletico quer conseguir neste ano tão importante para instituição… Isso me fez tomar a decisão de vir para cá", afirmou Mastriani em sua chegada ao Furacão.
Início da carreira e pesadelo na Europa
Natural do Uruguai, Mastriani viveu grande parte de sua infância na Villa del Cerro, bairro da zona oeste da capital do país, do outro lado da Baía de Montevidéu.
O atacante canhoto e de 1,80m de altura deu os primeiros passos no futebol na cancha do Sauce, clube de infantis do bairro, até se transferir ao Cerro, time de tradição do futebol uruguaio, mas que está atualmente na segunda divisão, em 2006.
Pelo clube alviceleste, fez toda categoria de base e se profissionalizou em 2012. Foram duas temporadas no Uruguai, com 40 jogos e 14 gols antes de se transferir para a Europa. Do Cerro foi contratado pelo Parma, da Itália, em uma transação polêmica e com valores bem abaixo do esperado pelos uruguaios, já que Mastriani tinha passagens pela seleção.
Um dos motivos teria sido que o clube uruguaio não o ajudou no tratamento de uma lesão e o fez perder o Mundial sub-20. Em meio a isso, se tornou pai aos 19 anos do pequeno Francesco - hoje já tem mais dois filhos, Filippo e Gino.
Já em solo europeu, em 2013, acabou jogando emprestado ao Crotone, por cinco partidas. Depois, passou pelo ND Gorica, da Esvolênia, e em 2014 atuou pelo Olhanense, de Portugal, onde fez mais jogos (30) e marcou seis gols. O sonho de jogar na Europa virou um pesadelo, como o próprio Mastriani contou em uma entrevista ao jornal O observador, do Uruguai.
"Quando pensei que tinha realizado o sonho de ir para a Europa, foi a pior coisa que me aconteceu. Fui para um clube que estava falindo (Parma). Não fui pago, me mandaram por toda a Europa, tive muitas experiências negativas e foi difícil ver o lado positivo. Eles me deixaram sozinho e em um lugar que tive dificuldades de sair", revelou em 2020.
Recomeço no Uruguai e números expressivos no Equador
A solução foi recomeçar em casa. Mas como havia saído brigado do Cerro, foi o Rentistas quem o acolheu em 2016. As boas atuações o levaram no ano seguinte ao México.
Jogou pelo Tampico Madero e ao Alebrijes. De volta ao Uruguai, fez quatro partidas pelo Sud América. Mas o trauma financeiro e psicológico vivido na Europa só foi superado quando ele ingressou no Boston River, também de Montevidéu, com ajuda de uma psicóloga.
"Quando estive no Rentistas ainda estava saindo de um momento difícil que tinha sido minha passagem pela Europa, minha cabeça não estava totalmente focada no futebol. No Boston River voltei a jogar, tive muitos minutos e me senti bem em campo", explicou Mastriani ao El País, do Uruguai, em entrevista de agosto do ano passado.
Mentalmente focado, Mastriani reencontrou a paixão pelo futebol e também a artilharia quando chegou ao Equador. No Guayaquil City, em duas temporadas, fez 54 partidas com 24 gols e cinco assistências.
Já no Barcelona de Guayaquil, por uma temporada e meia, foram 66 jogos, com 19 gols e quatro assistências. Em 2021, inclusive, foi um dos responsáveis pela campanha de semifinalista da Libertadores dos Canarios. Ele só foi negociado para o América-MG porque o Barcelona acabou contratando outro centroavante para a temporada (João Jairo Cifuente).
"No começo aqui ele não teve muitas oportunidades. Depois conquistou o título equatoriano em 2020 e fez excelentes jogos. Acabou sendo um jogador muito importante na Copa Libertadores de 2021. Naquele ano já era um jogador com boa técnica e com um forte jogo aéreo", relembra Christian Carrasco, repórter da Rádio Caravana de Guayaquil.
Passagem marcante pelo América-MG e cinco gols em "despedida"
Mastriani chegou ao América-MG em agosto de 2022. Nos primeiros meses, demorou a se adaptar ao futebol brasileiro e teve poucas chances com o técnico Vagner Mancini. No primeiro ano, fez 11 partidas com apenas um gol e uma assistência.
Já no ano passado, teve mais oportunidades e começou a se destacar com boas atuações na Sul-Americana. Ao todo, foram 42 jogos com 21 gols e uma assistência. O número o colocou como o maior artilheiro do Coelho em uma mesma temporada no século. Um desses gols, inclusive, foi diante do próprio Athletico, na vitória rubro-negra por 3 a 2, na Ligga Arena, em um arremate de fora da área.
"Foi na Sul-Americana, por ele ser estrangeiro, que ele começou a ter destaque, fazer gols e ganhar a posição de titular. Antes, o treinador [Vagner Mancini] não o escalava tanto para jogar. Com a chegada do Fabián Bustos, ele mostrou seu valor e começou a fazer muitos gols, tanto que foi artilheiro da Sul-Americana e terminou como artilheiro do América-MG no ano", lembra o jornalista Edivaldo Miranda, do jornal O Tempo de Minais Gerais.
O jornalista destaca que, mesmo com a queda para a Série B e a vontade do atacante de sair, a torcida americana tem muito apreço por Mastriani.
O centroavante se despediu dos torcedores mineiros no Independência com os cinco gols da goleada 6 a 0 sobre o Pouso Alegre na semana passada e fez mais um no 6 a 1 sobre o Ipatinga, no domingo (28). Os tentos colocaram o atacante como o maior goleador das Américas desde o 2º semestre de 2023.
"A torcida do Coelho gosta muito dele, mas agora ficaram órfãos. Mesmo os torcedores sabendo que ele queria sair, o respeitaram e agradeceram a passagem dele aqui, porque ele sempre foi muito profissional. Jogou esse começo do Campeonato Mineiro, marcou cinco gols na semana passada e mais um no domingo. Se tiver alguém para colocar a bola para ele, vai dar muito certo aí no Athletico. Todos já viram como o índice de acerto dele é muito alto.", acrescenta.
Símbolo da Os Fanáticos? Mastriani explica comemoração e tatuagem
A tradicional comemoração de Mastriani tem semelhança com a torcida organizada Os Fanáticos. O símbolo da celebração do atacante é o mesmo dos torcedores do Athletico. O jogador, no entanto, explicou que os braços cruzados no peito significam uma homenagem a seu melhor amigo, que faleceu em 2020 e que era fã do filme "Pantera Negra".
"Os braços cruzados significam 'Wakanda Forever'. É uma dedicação que eu faço para o meu melhor amigo que faleceu em um acidente trágico. Ele era muito fanático pelo filme, muito fanático pelo ator, que ele se achava parecido. Então, é uma homenagem que eu faço a ele a cada vez que faço gol", explicou.
O atacante também tem uma caveira, outro símbolo dos torcedores rubro-negros, tatuada na mão esquerda.
"Tatuagem faz muito tempo, uma caveira alegre, uma forma de olhar a morte também. Um pouco peculiar, né? Sabia do símbolo da torcida, alguns me falaram isso, acho que é um bom paralelo. Chegar aqui, fazer minha comemoração para meu irmão e que ainda tenha a ver com a torcida é algo especial, que vem muito junto", finalizou.
Ficha técnica
Nome completo: Gonzalo Mathías Mastriani Borges.
Nascimento: 28/04/1993 (Montevidéu, Uruguai).
Posição: atacante.
Altura: 1.80m.
Carreira: Cerro-URU, Crotone-ITA, ND Gorica-LET, Olhanense-POR, Rentistas-URU, Tampico Madero-MEX, Alebrijes-MEX, Sud América-URU, Boston River-URU, Guayaquil City-EQU, Barcelona-URU, América-MG.
