A primeira coisa que me ocorreu ao chegar na
festa dos campeões de 2001 foi: isso aqui não é nostalgia, é história em
movimento.
O evento, com seus 800 litros de chope e 80 caixas de uísque, pagode e singelas homenagens coincidia com o primeiro jogo da final da Copa do Brasil, em Belo Horizonte, entre Athletico e Atlético-MG.
Levamos uma invertida forte lá, uma pena, mas faz
parte.
O que importa é que não éramos um bando de
sujeitos velhos olhando com saudade para a aurora das nossas vidas. Não, porque
a ideia força que nos unia naquele lugar está em plena expansão. 2001 foi o
começo e não o fim de alguma coisa.
Tudo isso era impensável para o menino que
começou a entender o que era o futebol em 1985. Antes, já frequentava os
estádios no ombro de gigantes e ficava hipnotizado pela festa das torcidas e
pelos personagens fantásticos que compunham o cenário.
No título de 1985, porém, quando invadi com meu pai e irmãos o gramado da Baixada nasceu o inquebrantável sentimento de pertencimento recíproco. O Athletico é meu e pode contar comigo até eu morrer.
Mas meu timing foi péssimo. No dia seguinte, o clube fechou a Baixada e se mudou para o Pinheirão. Toda aquela festa ensolarada do título paranaense sobre o Londrina e a emoção transgressora de invadir o campo com milhares de malucos tinham sido o ato final de uma era.
No Pinheirão me formei como torcedor. Como era o
que tínhamos, eu adorava tudo aquilo e guardo as melhores lembranças
adolescentes dos rigores do nosso “tosco lar”. Em retrospectiva, contudo, sei que
nossa torcida passou por uma provação bíblica obrigada a errar por aquele
deserto durante anos.
Não foi nada fácil crescer nos pátios de colégios
e campinhos de pelada e ser sacaneado por vizinhos e colegas que no meio de
qualquer discussão apontavam para o pentagrama dourado bordado em cima do
distintivo.
Mas o tempo gira sua roda. Aprendi que na vida alguns sinais de êxito e opulência tentam se impor quando, no fundo, tudo já decaiu. Aquele dourado que me incomodava tanto era a luz de uma estrela cadente.
Em 2001, como vimos, muita coisa precisou dar certo ao mesmo tempo. E nesta conjunção sobrenatural – somada a visão e trabalhos de pessoas extraordinárias – não só antecipamos nosso título como catapultamos uma história que ainda vai longe.
Nem tudo foram flores nestes 20 anos. No país, a
economia e a política deram várias piruetas, a sociedade aprendeu coisas novas
e esqueceu outras.
Em campo, tivemos grandes reveses, Erechim à frente de todos. Em algum momento, o clube e a torcida se dividiram. Caímos. Voltamos. Refizemos a Baixada duas vezes. Teve Copa. A cerveja foi proibida, mas voltou. Nos acostumamos a jogar a Libertadores e nos últimos três anos, a levantar taças pesadas para fazerem companhia ao troféu que o capitão Nem ergueu em São Caetano naquela tarde, há 20 anos.
E que sentimento bom, perversamente bom, é esse de ter passado e futuro. A um só tempo celebrar nossa maior glória, mas com a impressão viva de que a gente ainda nem começou. Um 2022 com muita paz.
Sandro Moser é jornalista, escritor, autor da biografia “Sicupira – Vida e gols de um craque chamado Barcímio”. Convidado pelo UmDois Esportes, o atleticano encarou o desafio de recontar a odisseia atleticana que completa 20 anos.