Athletico
20 anos da estrela

Episódio bônus: Uma carta para Alex, o mais mineiro dos matadores

Por
Sandro Moser, especial para UmDois Esportes
22/12/2021 13:03 - Atualizado: 04/10/2023 17:07
Episódio bônus: Uma carta para Alex, o mais mineiro dos matadores
| Foto: Arquivo/GRPCOM

20 anos depois daqueles domingos em dezembro de 2001, dos dias 16 e 23, pude enfim conversar com o grande Alex Mineiro.

Em nossa rápida charla, descobri que temos pelo menos um hábito em comum: "Várias vezes eu revejo os gols das finais. Às vezes, dá muita saudade. Abro uma cervejinha, fazendo churrasco e coloco para ver. É bem legal relembrar o passado, as coisas boas que fizemos dentro do campeonato brasileiro", revela Alex.

Pois saiba, senhor Alexander Pereira Cardoso, que aqui em casa também fazemos a mesma coisa. E a cada sessão daqueles oito gols, tua façanha fica mais grandiosa. Ninguém nunca chegou perto de uma atuação individual tão decisiva quanto as suas em nenhum dos milhões de campeonatos de futebol espalhados pelo mundo desde 2001.

E nunca vai, pois no velho jogo inglês, quem impera é o acaso. Nós, da arquibancada, esperamos, no máximo, que os jogadores saibam tirar alguma vantagem da pequena influência que exercem no jogo. A bola decide o resto.

A única exceção são os grandes atacantes. Eles são tão raros e preciosos
pois deles se espera que possam domar o acaso e assumir o controle do destino.

E ninguém mudou tão drasticamente o destino de um povo quanto o Alex Mineiro do Athletico campeão de 2001.

Perguntei para Geninho, e para alguns de seus colegas, o que aconteceu com Alex Mineiro naqueles jogos e ninguém soube explicar. Você, Alex, arriscou seu palpite. "Foi uma bênção divina. Deus me abençoou pelo trabalho feito durante toda a temporada junto com todo o grupo, eu tive a felicidade de estar no lugar certo e na hora certa".

Se houve intervenção de alguma força maior eu não sei, mas que o Alex
Mineiro era o cara certo não há dúvida.

Sua dupla Kleber era espetacular. O maranhense era ousado, inconsequente,
atrevido. Tentava as jogadas mais difíceis, fazia os golaços improváveis e, às
vezes, errava os gols fáceis. Incendiava o estádio. O mineiro era matreiro,
discreto, de raciocínio rápido. Fustigava os zagueiros e não perdia a calma na
frente do goleiro. Juntos, criaram obras-primas.

Mas Alex Mineiro também se entendeu perfeitamente com Ilan e Adauto e na
hora decisiva foi frio e fatal de uma forma sem precedentes.

Em busca dos porquês, há 20 anos esbarro sempre na frase do Otto Lara Resende. Não aquela, "o mineiro só é solidário no câncer", que o grande escritor mineiro nunca escreveu.

A frase que explica tudo é: "A grande contribuição de Minas Gerais para a cultura universal é a tocaia".

Para o Otto, a tocaia era quase uma homenagem à vítima que morria "sem aviso prévio, delicadamente, se possível desconhecendo o autor da cilada".

Imagino que o escritor possa ter visto algumas tocaias em sua infância em São João Del Rey e alhures, mas se tivesse sido nosso contemporâneo poderia ter descrito a frieza de Alex Mineiro para fazer gols decisivos.

Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo
Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo

Mais tranquilo e boa praça dos mineiros fora de campo, Alex era cruel na
grande área. Entrava sem fazer barulho. Nunca tentava o chute forte. Rolava a
bola de mansinho, num canto impossível ao goleiro.

Quando o bochincho se armava, Alex não se posicionava, se ocultava na área e armava suas emboscadas. Espreitava os zagueiros. Um matador do grande sertão que a providência mandou para Curitiba em 2001.

Seus lindos gols foram homenagens às suas vítimas e escreveram a glória maior dos quase 100 anos do Atlético Paranaense.

Sandro Moser é jornalista, escritor, autor da biografia "Sicupira - Vida e gols de um craque chamado Barcímio". Convidado pelo UmDois Esportes, o atleticano encarou o desafio de recontar a odisseia atleticana que completa 20 anos.

Leia todos os episódios da série especial sobre os 20 anos do título do Athletico de 2001

Veja fotos exclusivas do Athletico de 2001!

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