Há quem diga futebol é o grande esporte entre todos
porque é decidido por um evento raro. O gol pouco acontece em meio a milhares
de outros lances como carrinhos, passes, dribles, faltas, laterais,
divididas…
Mas se o que torna o jogo especial é a escassez de seu
grande momento, em 2001, o ataque rubro-negro tirou nossa barriga da miséria.
Foram 68 gols. Até então, o segundo melhor da história. Só perdia para o Vasco de 1997, que marcou 69, mas eu, como não nasci ontem, sei que que este gol a mais foi feito com a mão por Edmundo contra nós, então não conta.
Muito do mérito é de Geninho, que manteve o 3-5-2 que herdou de Carpegiani e Mário Sérgio, mas o tornou ainda mais ofensivo. Para ele, seu time estava taticamente muito à frente de seu tempo.
“Aquele time fazia muita coisa que hoje em dia virou o mais moderno. Fazia uma pressão na saída de bola do adversário e jogava com três zagueiros, o que naquela época era novidade, foi muito criticado e hoje os treinadores estrangeiros estão vindo aqui no Brasil e usando os três zagueiros. Então aquele time há 20 anos atrás estava muito atualizado. Dava para dizer que estava anos à frente e talvez por isso fez uma campanha como fez e acabou surpreendendo pelo título”, comenta Geninho.
“Aquele time há 20 anos atrás estava muito atualizado”
Geninho
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Era mesmo uma doideira o Furacão da caveira. Kléber, Alex Mineiro, Gabiru ou Souza, e Kléberson iam na garganta da zagueirada adversária. O time se defendia com apenas quatro homens: o trio de zaga, que mais parecia uma gangue em campo, que além de fecharem a casinha chegavam muito na frente, e Cocito.
Todos os três da defesa, Rogério Corrêa, Gustavo e Nem (foto abaixo), fizeram e participaram de gols decisivos. Já o volante Cocito levantava a torcida ao misturar o refino de jogadas da época do futebol romântico com as técnicas do full contact e do boxe tailandês.
Os dois laterais, Fabiano e Alessandro, eram caso à parte. Incansáveis, faziam o time ganhar por pontos cavando faltas, escanteios e roubando a bola no ataque. Perguntei a Alessandro, quantas meias-luas ele deu em 2001:
“Bastante! Tinha essa marca que ficou registrada na lembrança dos torcedores atleticanos, tinha um repertório de dribles, mas essa marcou mais porque eu tinha essa facilidade e entendia o momento de fazer essa jogada”, comenta o ex-camisa 2, na foto abaixo com o meia Adriano.
Pensado bem, o time era a cara da nova identidade do clube nos anos 2000. O esquadrão de Geninho era faminto por títulos, arruaceiramente ofensivo e petulantemente ambicioso. Como disse Eduardo Galeano:
“Diga-me como jogas e eu te direi quem és”
Eduardo Galeano
Sandro Moser é jornalista, escritor, autor da biografia “Sicupira – Vida e gols de um craque chamado Barcímio”. Convidado pelo UmDois Esportes, o atleticano encarou o desafio de recontar a odisseia atleticana que completa 20 anos.